terça-feira, 26 de julho de 2016

O que possuímos


É interessante notar como desejamos, no mundo, tantas coisas, que nos parecem imprescindíveis.
Quantas vezes, em meio às tarefas que nos cabem, na oficina de trabalho, não desejamos um emprego melhor?
Pois é. Gostaríamos de um melhor ambiente, um chefe menos rigoroso, uma carga horária menor, um salário maior.
No entanto, centenas de pessoas anseiam somente por ter um emprego. Qualquer que fosse. Um salário mínimo, ao menos, para saírem da penúria total.
Quantas vezes reclamamos dos pratos servidos no almoço e no jantar? Sempre a mesma coisa. Parece que a cozinheira está desprovida de ideias ou anda com preguiça.
Entretanto, enquanto almejamos pratos mais sofisticados e variados, milhares, no mundo todo, desejam apenas um prato de comida.
Olhamo-nos ao espelho e reclamamos da cor dos olhos. Como seria bom se tivéssemos olhos claros. Ou escuros. Mais esverdeados.
Contudo, inúmeras criaturas aguardam simplesmente a oportunidade de enxergar. Anseiam por uma córnea, uma cirurgia que os libere da cegueira em que se encontram.
Encantamo-nos com as vozes do cantor, do locutor e desejaríamos ter uma voz bonita, cristalina. Ou encorpada, máscula.
Ao nosso lado, porém, caminham muitos que desejariam apenas ter a ventura de falar, em qualquer tom.
Pensamos, olhando nossos pais, que seria muito bom se eles fossem mais esclarecidos, tivessem diplomas universitários.
Tivessem, enfim, uma visão mais ampla do mundo.
Seria tão bom! Mas, em nosso mesmo bairro, existem dezenas de pessoas que almejariam simplesmente ter pais.
Fossem eles iletrados, analfabetos, pobres de entendimento. Mas que estivessem ao seu lado para amá-los.
Reclamamos da rua barulhenta em que se situa a nossa casa, do cachorro do vizinho que late toda noite, perturbando-nos o sono.
Desejaríamos silêncio. Um bairro tranquilo, cães disciplinados, ruas sem trânsito. Muito silêncio para nossa leitura, nosso descanso, nosso lazer.
Nem nos damos conta de que centenas de criaturas almejam ardentemente, simplesmente ouvir. O que quer que seja. O ruído do trânsito, o apito das fábricas, a gritaria da criançada.
Qualquer coisa, contanto que pudessem ouvir.
Olhamos, com olhos de desejo, as vitrinas abarrotadas de sapatos lindos. Modelos recém-chegados. Lançamentos.
Gostaríamos tanto que nosso orçamento nos permitisse comprar um novo par. Afinal, os nossos andam um pouco gastos e fora de moda.
Enquanto olhamos para nossos pés, desejando novos sapatos, muitos contemplam os próprios membros inferiores, desejando apenas ter pés.
Pensamos num carro novo, mais confortável. Um carro com porta-malas maior, que caiba mais coisas.
Enquanto isso, bem próximo de nós, muitos apenas sonham com a possibilidade de se locomoverem de um lado a outro com as próprias pernas.
 
* * *

É justo sonhar. É bom desejar melhorar o padrão de vida. Isso faz parte do progresso do ser humano.
Entretanto, que esses anseios não se constituam em nossa infelicidade. Não esqueçamos de dar o devido valor ao que temos.
Valorizemos a possibilidade de andar, ouvir, enxergar, de nos locomover de um a outro lado, por nossa própria conta.
Sejamos gratos pela nossa família, pequena ou grande. Ilustrada ou não.
Agradeçamos, enfim, a Deus, pelo dom da vida. Por estar na Terra, abençoada escola.

Redação do Momento Espírita.
Em 7.6.2016.

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