sexta-feira, 30 de março de 2012

Serviços disponíveis para gatos e cachorros no Japão


Depois do tradutor de latidos Bowlingual, a novidade é o Meowlingual, o tradutor de miados

A vida dos bichos de estimação japoneses sempre foi de dar inveja, tantos são os mimos a que os donos submetem os seus queridos pets. Gatinhos e cachorros dispõem de hospitais, clínicas, salões de beleza, lanchonetes e até cemitérios. Tudo exclusivo para eles. Agora, a mordomia da bicharada aumentou. Já estão no mercado tradutores portáteis de latidos e miados, livros didáticos que ensinam as linguagens “faladas” por eles, serviço de congelamento de células para a clonagem após a morte dos animais e até médiuns que prometem exorcizar forças do Além que tiram o sono dos bichos de estimação.

Poodle de xícara: um cãozinho que pesa 150 gramas e custa cerca de 650 mil ienes (cerca de 5,8 mil dólares)Poodle de xícara: um cãozinho que pesa 150 gramas e custa cerca de 650 mil ienes (cerca de 5,8 mil dólares)

Com essa proliferação de serviços inusitados nos últimos tempos, a indústria em torno dos pets virou um negócio que rende trilhões de ienes a cada ano no país. Não é para menos em uma sociedade onde, de cada três casas, uma abriga algum tipo de animal. No total, são quase 17 milhões de cachorros e gatos, de acordo com a Associação de Fabricantes de Alimentos do Japão. E os serviços e produtos em torno deles só crescem. Atualmente, os japoneses gastam 60% a mais com seus bichinhos que há dez anos. Na média nacional, as despesas de cada residência com animais somam 14 mil ienes (125,7 dólares) por ano, segundo o Ministério da Administração Pública e Assuntos Domésticos.

Os nipônicos também não economizam na hora de adquirir os bichinhos e chegam a desembolsar 650 mil ienes (5,8 mil dólares) em um exemplar de “poodle de xícara”, um cão minúsculo que pesa 150g e, como diz o nome, cabe em uma xícara. Outra raça da moda no país é o chihuahua. Uma das causas dessa onda é Kuu-chan, o chihuahua que estrela uma série de comerciais de uma companhia financeira na televisão. Como não costumam passar dos 5kg, esses cães agradam até aos idosos, que podem mantê-los dentro de casa.

Au au: “Estou frustrado”

A sensação do momento no universo dos pets são os tradutores de latidos. A mania começou em setembro de 2002, quando a fabricante de brinquedos Takara lançou o tradutor Bowlingual. Até março, o aparelho já havia vendido 300 mil unidades no Japão, ao preço de 14,8 mil ienes (132,8 dólares).

O Bowlingual fica pendurado no pescoço do cachorro e classifica os latidos em seis categorias emocionais – por exemplo: feliz, triste, bravo, acuado… – e traduz o som em uma das 200 expressões disponíveis, que aparecem no display ou são faladas.

Por enquanto, só é fabricado nos idiomas japonês e coreano. Algumas das frases “traduzidas” são: “Estou frustrado”; “Quero ficar com você”; “Vamos brincar? Eu estou pronto”, entre outras. A versão sul-coreana está vendendo bem fora do Japão, o que deixou a fabricante otimista quanto ao lançamento da versão americana.


Na mesma linha, a Takara colocou no mercado japonês o Meowlingual (lê-se “miaulingual”). Nessa versão felina, os donos terão de segurar o aparelho, colocando-o perto da boca do gato como se o animal estivesse sendo entrevistado, já que felinos normalmente não aceitam ficar com um equipamento pendurado ao pescoço.

O Bowlingual entrou até 
na tradicional lista das mais 
importantes invenções selecionadas anualmente 
pela revista americana Time.

Segundo a fabricante, a linguagem dos gatos é mais complexa que a dos cães, já que os miados giram menos em torno do agrado aos donos. Mesmo assim, o Meowlingual saiu mais barato: 8,8 mil ienes (79 dólares).

O setor editorial é outro que se beneficia com os animais de estimação. Em qualquer grande livraria de Tokyo, por exemplo, há mais de 100 títulos disponíveis sobre cachorros e gatos – incluindo livros, revistas, coleções de fotos. Antes de os tradutores portáteis revolucionarem esse mercado, o hit eram os livros que tentam ensinar o que quer dizer cada latido ou miado aos donos dos bichos.

Parece real. As crianças não resistem aos gatos robôsParece real. As crianças não resistem aos gatos robôsOs japoneses gostam tanto de animais que mesmo as versões robóticas são tratadas com carinho. A Takara vende também passarinhos de brinquedo que cantam e reagem a luz e sons, como pássaros de verdade. A meta era atingir as crianças, mas os adultos entre 30 e 60 anos respondem por 70% das vendas. Um brinquedo de estimação similar, o Yubinori-pipi, da Tomy, já vendeu 500 mil unidades no arquipélago, ao preço de 680 ienes (6,1 dólares) cada.

O brinquedo mais avançado é o Hakoton, da Bandai. Ele move as patas e está disponível nas versões de macaco, cachorro ou urso. Seja de verdade ou não, os bichinhos de estimação conquistaram definitivamente os japoneses.

Exorcismo de bichos

Como no mundo material os pets estão bem servidos, a última tendência é o tratamento de seus males espirituais. Na internet, já existem sites que tratam da espiritualidade e possessão de animais e, pasmem!, médiuns especializados em exorcismo dos bichos, além de dicas para garantir que almas de animais mortos não se transformem em assombrações e de como rezar para esses espíritos. Sites tira-dúvidas (fotos ao lado) estão repletos de perguntas e relatos pessoais de supostos casos de possessão de animais. Um desses relatos traz a história de uma mulher de 33 anos que, não aguentando mais o inferno que enfrentava na vida amorosa e profissional, consultou um médium. Ele fez uma série de perguntas e, após conhecer a família da mulher e suas condições de vida, diagnosticou: um espírito havia possuído o cão da raça dachshund da família. O animal andava estranho, com olhar fixo, desde o início da onda de infortúnios da dona. Segundo o médium, o espírito pertencia a uma mulher que vivera na mesma casa e fora muito maltratada pelo marido em sua vida. Para libertar o cachorro do encosto, dá-lhe rituais de exorcismo. Não menos curiosa é a pesquisa dos cientistas da Univer-sidade de Yamaguchi. Eles deram os primeiros passos para criar um serviço de armazenamento de células de animais. Isso serviria para a futura clonagens de gatos e cachorros após a morte. As células ficariam congeladas até que as técnicas de clonagem estivessem prontas para “ressuscitar” os bichos. Assim, donos e animais ficariam juntos para sempre.


Obs.: Esta reportagem faz parte das celebrações de aniversário de 13 anos da Made in Japan. A matéria foi publicada originalmente em nossa revista comemorativa de sete anos (N° 84, de setembro de 2004). A Made in Japan mostrava a paixão dos japoneses por animais de estimação, que se refletia no lançamento de uma grande variedade de produtos para pets. Mesmo durante a recessão econômica japonesa, a partir do fim de 2008, esse mercado foi um dos únicos que não pararam de crescer.

Fonte: Made in Japan

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