segunda-feira, 7 de março de 2011

7 de março de 1808: Família Real Portuguesa Chega ao Brasil


NO DIA 7 DE MARÇO DE 1808, UM ACONTECIMENTO EXCEPCIONAL OCORRIA NO BRASIL. NAQUELE DIA APORTAVA NO RIO DE JANEIRO A FAMÍLIA REAL PORTUGUESA, ACOMPANHADA DE TODA A ELITE DE PORTUGAL. ESCAPANDO DA INVASÃO DE NAPOLEÃO, PELA PRIMEIRA VEZ NA HISTÓRIA, UM REI CRUZAVA A LINHA DO EQUADOR E COLOCAVA OS PÉS NUMA COLÔNIA. O REPORTAGEM ESPECIAL DESTA SEMANA VAI RELEMBRAR OS DUZENTOS ANOS DA FAMÍLIA REAL NO BRASIL. NO PROGRAMA DE HOJE, VOCÊ VAI CONHECER OS MOTIVOS QUE LEVARAM À FUGA.

"Imagine que, num dia qualquer, os brasileiros acordassem com a notícia de que o presidente da República havia fugido para a Austrália, sob a proteção de aviões da Força Aérea dos Estados Unidos. Com ele, teriam partido, sem aviso prévio, todos os ministros, os integrantes dos tribunais superiores de Justiça, os deputados e senadores e alguns dos maiores líderes empresariais. E mais: a esta altura, tropas da Argentina já estariam marchando sobre Uberlândia, no Triângulo Mineiro, a caminho de Brasília. Abandonado pelo governo e todos os seus dirigentes, o Brasil estaria à mercê dos invasores, dispostos a saquear toda e qualquer propriedade que encontrassem pela frente e assumir o controle do país por tempo indeterminado."

O relato faz parte do livro 1808, de Laurentino Gomes, que usa a ficção para que o leitor tenha noção do que significou a vinda da família real para o o Brasil. É o próprio Laurentino quem comenta aqui o acontecimento extraordinário.

"Foi exatamente isso que aconteceu em Lisboa 200 anos atrás. O povo português acordou um dia de manhã, e descobriu que o rei tinha ido embora. Todo o país, a corte inteira tinha atravessado o oceano, para ir viver e governar do outro lado do mundo. Isso nunca tinha acontecido antes na história do mundo e nunca mais voltou a acontecer."

Até aquele momento, nenhum rei jamais tinha colocado os pés nas colônias além mar nem mesmo para uma simples visita. Muito menos para morar e governar. E qual foi o motivo que levou o Rei de Portugal, dom João VI atravessar o Atlântico, levando a corte em cerca de cinquenta barcos, numa comitiva que, de acordo com alguns estudiosos, somava mais de dez mil pessoas? O que levou a corte portuguesa, acostumada a hábitos refinados e ao clima europeu, a aportar em terras brasileiras, uma simples colônia, em pleno calor do verão?

Em 1807, o exército de Napoleão avançava pela Europa e impunha o bloqueio continental a produtos vindos da Inglaterra, antiga parceira comercial de Portugal. A França exigia que Portugal rompesse seus laços com a Inglaterra, sob pena de invasão. Bem que o rei D. João VI tentou manter-se em cima do muro durante algum tempo, mas chegou a hora da decisão, como explica Isabel Lustosa, cientista política da Fundação casa de Rui Barbosa.

"Era quase impossível para d. João romper essa aliança com a Inglaterra e, ao mesmo tempo, ele estava na iminência de ser invadido pelas tropas napoleônicas. Então era uma situação de impasse, ele com a sua natureza protelatória ... tinha prorrogado essa decisão, prolongado esse processo até o limite, e o limite foi dado naquele início de novembro de 1807, quando ele já tinha assinado alguns acordos com a França, assumindo que expulsaria os ingleses, e secretamente assinara outros acordos com a Inglaterra, regulando e organizando sua partida."

A publicação do jornal francês Le Moniteur anunciando que a Casa de Bragança havia parado de reinar na Europa foi a deixa para empreender a fuga. A partida foi viabilizada com o apoio da armada inglesa, que se posicionara às margens do rio Tejo, em Lisboa, para pressionar o rei a não atender as ordens francesas. Isabel Lustosa diz que os ingleses ameaçavam tomar o Brasil de Portugal caso D. João rompesse com a Inglaterra. Por sua posição indecisa e posterior fuga, D. João foi citado nas memórias de Napoleão como o único governante que o enganou. O historiador Jurandir Malerba, professor da Unesp, em Franca, conta que a fuga foi feita tão às pressas que várias pessoas foram deixadas para trás, e pertences foram esquecidos no cais. Em 29 de novembro de 1807, grande parte da elite portuguesa fugia para o Brasil. E o rei teve o cuidado de limpar os cofres do governo antes do embarque.

O Brasil, explica o professor Malerba, era a menina dos olhos de Portugal, e respondia por 85% das importações e exportações do mercado colonial. Por isso foi escolhido para receber toda a corte portuguesa. O jornalista Laurentino Gomes, autor do Livro 1808, que retrata esse período histórico, concorda com a importância do Brasil.

"O império colonial portugues deixou de existir com a independência do Brasil. Porque, sem o Brasil, o império não existia mais. Existiam alguns entrepostos comerciais e de tráfico de escravos na Africa, Macau, Goa, na Índia, o atual Timor Leste, não havia mais que isso no império colonial português. O Brasil não, o Brasil era a coisa mais importante que existia, toda riqueza estava aqui. A cana-de-açúcar, o tabaco, o ouro, o diamante. Era daqui que Portugal tirava a sua riqueza."

Laurentino destaca que, com a fuga do rei, Portugal voltou a ser um país pequeno e pobre, sem recursos naturais e sem população para se defender na Europa.

Fonte: http://www.camara.gov.br

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