terça-feira, 27 de outubro de 2009

O corpo fala


A maneira mais confiável de reconhecer as emoções de uma pessoa é analisar seu tom de voz. Há vários anos, empresas usam programas de análise da fala que monitoram conversas entre atendentes de call center e clientes. Uma das fabricantes desse software é a Nice, sediada em Ra’anana, Israel. Ela produz sistemas utilizados por empresas e órgãos de segurança. Possui 24 mil clientes, incluindo o Departamento de Polícia de Nova York e a operadora Vodafone. O software analisa o áudio, detectando palavras-chaves, como o nome de um concorrente, e frases específicas. Além disso, mede o nível de estresse analisando o volume da voz e a velocidade da fala. O programa alerta sobre consumidores que parecem estar irritados, talvez por fazerem uma reclamação infundada ou por receberem atendimento de má qualidade.

A análise da voz é eficaz quando a pessoa se expressa verbalmente. Mas nem sempre é esse o caso. Por isso, pesquisadores procuram formas de interpretar emoções analisando a postura corporal e as expressões faciais. Já houve notável progresso, principalmente na identificação de rostos. Para realizá-la, o computador examina tons de pele e usa algoritmos para localizar os olhos, as sobrancelhas, o nariz e a boca. Passa a seguir, então, os movimentos dessas partes do rosto. Um código-padrão é usado para classificar as atitudes observadas. Ele reconhece 44 unidades de ação que representam movimentos faciais. Uma delas pode, por exemplo, identificar um sorriso (a boca se estica horizontalmente e seus extremos se elevam). Se houver também elevação das bochechas até produzir pés de galinha, será possível afirmar que se trata de alguém realmente alegre, e não de um sorriso amarelo.

Com essas técnicas, programas de computador reconhecem seis emoções básicas: nojo, alegria, tristeza, raiva, medo e surpresa. Eles acertam nove em cada dez testes, mas somente se as expressões faciais forem exageradas. Outro programa é capaz de classificar expressões mais suaves e espontâneas como negativas ou positivas. Nesse caso, a identificação mostra-se correta em três quartos dos testes.

Para interpretar emoções mais complexas, o computador vai precisar de outros dados, como postura corporal e movimentos da cabeça. Essas informações são necessárias porque as expressões faciais são ambíguas. Um sorriso pode sinalizar constrangimento se estiver acompanhado de uma inclinação da cabeça, por exemplo. Mover a cabeça para trás é parte do conjunto de sinais que revelam nojo. Mas se essa ação estiver combinada com movimento dos extremos da boca para baixo e com contração e elevação dos ombros, ela demonstra indiferença. “Se eu observasse apenas a face e visse a boca curvando-se para baixo, diria que é uma expressão de tristeza. Mas a combinação com movimentos de ombros e cabeça revela um ‘Não estou nem aí’”, diz Maja Pantic, que estuda o reconhecimento de emoções no Imperial College, em Londres. A equipe de Pantic pretende unir a informação fornecida pelos gestos corporais à das expressões faciais para interpretar emoções precisamente. “As pesquisas nessa área ainda estão embrionárias”, diz.

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